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Postado por MBBR

Em entrevista recente à revista Allure, Millie Bobby Brown falou sobre seu processo de crescimento antes e depois das telas, além das recentes (grandes) polêmicas que tanto a atormentaram e a fizeram crescer de forma exponencial. Confira a entrevista na íntegra traduzida pela equipe MBBR.

Com apenas 18 anos, Millie Bobby Brown já lidou com os poderes e perigos da fama. A estrela de Stranger Things e Enola Holmes deseja usar a sua grande plataforma para empoderar jovens garotas e mulheres.

Há uma pequena placa do lado de fora do Wentworth Club que detalha o estilo suburbano de Londres: nada de jeans. Sem t-shirts. Sem regatas. Mas não menciona nada sobre pijamas, o que era exatamente o que Millie Bobby Brown vestia quando chegou.

A atriz de 18 anos, em seu pijama e um belo cardigan rosa, chega grudada no Clube com seu namorado, Jake Bongiovi. Jake – que, aliás, não estava de pijama – estava somente como motorista da Millie e seu observador silencioso. “Ele nem está aqui,” Millie, que parece ser uma pessoa sem muitas formalidades, sugere que sentemos numa mesa do pátio externo. O verde do campo de golfe certamente chama a atenção, apesar de Millie não jogar golfe. Ela escolheu esse lugar, que não é muito longe da casa cuja se mudou recentemente, porque é inacessível a olhos curiosos.

“Eu gosto de lugares sossegados,” ela explica sobre sua escolha. “Lugares cujos sou familiar e que me sinto confortável neles.”

Essa é a segunda vez que eu e Millie conversamos. Na primeira, três dias atrás, foi através do Zoom devido a um caso de COVID no set de Damsel, um filme da Netflix que ela está estrelando e produzindo através da PCMA Productions, a empresa que fundou com sua família alguns anos atrás. Ambas vezes ela estava de pijamas.

“Se eles tem um dress code, não irei,” ela fala sobre sua escolha de estilo, claramente oposta ao Wentworth Club, cujo se parece com uma miniatura do Castelo de Windsor, e que, realmente, tem um dress code.

Estou descrevendo a vestimenta da Millie não porque realmente importa, mas porque afirma o jeito que ela se apresenta para o mundo. Apesar de ser a estrela de Stranger Things, uma das maiores séries de TV do mundo, e ter mais de 55 milhões de seguidores no Instagram, Millie aparenta ser amigável, aberta, e imediatamente simpática. Fora do set, ela confirma que quer que nossa entrevista seja uma “conversa super-aberta”, e ela faz jus a essa declaração.

Durante o curso de três horas, a atriz se revela de uma forma que exige ambos níveis de confiança e um interesse óbvio em oferecer aos fãs uma espiada por detrás das cortinas. No final da nossa conversa, Millie aparentemente se abriu sobre quase tudo, inclusive sobre detalhes mundanos como ser apática a homens carregando sombrinhas e seu vício televisivo atual, Love Island. “Nós cobrimos tudo,” ela concorda, enquanto levantamos da mesa. “Você sabe mais sobre mim do que o próprio Jake.”

Millie, que agora divide seu tempo entre Londres e Atlanta, nasceu na Espanha de pais britânicos, Kelly e Robert Brown. A família viveu na Espanha durante os quatro primeiros anos da sua vida e se mudou para a Inglaterra pelos próximos quatro anos, antes de se mudarem para Orlando. A arte de atuar encontrou o seu coração rapidamente. Ela se lembra de cantar o não-tão apreciado hit de natal “Grown-Up Christmas List” em uma peça, ao lado de outros estudantes mais velhos (ela era a mais nova do palco) e instantaneamente realizar como era feliz enquanto performava.

“Meus pais ficavam tipo, ‘Bom, é um emprego. E se você se comprometer com ele, você tem que se comprometer. Você não pode fazer um teste e depois desistir,'” ela relembra, seu sotaque indo e voltando entre o britânico e o americano. “Então eu pensei, eu não ligo. Seja o que for, eu quero atuar.”

Ela foi suficientemente convincente até que o clã Brown rapidamente se mudou para Los Angeles e Millie, na época com oito anos de idade, começou a fazer testes em Hollywood. Seu primeiro papel nas telas foi como a jovem Alice em Once Upon a Time in Wonderland, e Millie subsequentemente conseguiu papéis em NCIS, Modern Family, e Grey’s Anatomy. em 2014, ela estrelou a série americana da BBC Intruders, fazendo o papel de uma garota cuja teve sua mente possuída por um serial killer. Mesmo tendo feito testes para papéis divertidos também, ela sempre foi escolhida para os mais intensos. Para Millie, atuar não era só um jeito de se afirmar na vida, mas também uma forma de descobrir quem queria ser.

“Eu gostava de ser pessoas diferentes porque eu sempre lidava com a minha identidade e o fato de saber quem eu era,” ela diz. “Mesmo tão jovem, eu sempre senti como se não pertencesse a todos os lugares que estava. Eu também lidei com a solidão um pouco. Sempre me senti um pouco solitária numa sala cheia, tipo, eu era diferente, como se ninguém realmente me entendesse. Então eu gostava de interpretar personagens que as pessoas entendessem e pudessem se relacionar, porque achava que ninguém poderia se relacionar com a Millie.”

Até chegar a série que mudou a sua vida: Stranger Things. Um pouco antes de filmar a fita para os Irmãos Duffer, ela teve um teste desastroso. Um diretor de elenco poderoso disse que ela não conseguiria entrar para a indústria porque era “muito madura.” Millie, que tinha 10 anos, estava em prantos.

“Eu sempre soube que eu era madura e eu não consigo mudar isso,” ela diz. “Voltando um pouco no que disse anteriormente sobre ser um pouco solitária e sentir como se ninguém fosse como eu na escola, e que ninguém era maduro como eu, ouvindo isso, foi muito pesado porque pensei que maturidade não era bom. E ouvir que eu não conseguiria entrar na indústria por causa disso, foi muito doloroso. Eu fiquei bem pra baixo com isso. Meus pais me disseram, ‘Apenas faça mais esse último teste por fita e daí você pode sair e brincar com seus amigos de novo.’ Então eu disse, ‘Ok, sim, devo fazer esse porque parece legal.”

Três meses depois, Millie foi escolhida para ser Eleven, uma jovem garota com habilidades psicocinéticas e telepáticas. No set da série ela encontrou o seu clã, um grupo de jovens atores que a fizeram se sentir menos sozinha. Como Eleven, Millie percebeu que a representação através das telas pode empoderar os telespectadores, uma sensibilidade que uma vez a levou a fazer o que faz, em partes, e fez com que ela e sua família criassem a PCMA Productions.

“No início foi bem legal,” ela diz sobre atuar. “Daí eu pensei, ‘Meu deus, eu realmente posso fazer coisas com isso. Eu realmente posso mudar o mundo com isso.’ Algo sobre atuar fazia com que eu me sentisse poderosa, impactante, e que eu poderia inspirar pessoas.”

Em 2019, a conexão poderosa da Millie com os fãs da geração Z levaram-na a fundar a Florence by Mills, uma marca de beleza (batizada em homenagem à sua bisavó) voltada para os consumidores mais jovens. Inicialmente, ela achou que seria só uma distração, mas enquanto crescia, a marca ganhou um propósito para Millie desenvolver produtos para pessoas da sua idade e genuinamente inspirar seus fãs.

“Eu não sei nada sobre beleza e skin care,” ela pontua. “Foi por isso que criei a marca. Te levarei nessa jornada comigo, assim podemos aprender mais sobre botânica, serums, extratos de frutas e vegetais, enzimas. Coisas que são tão importantes para a sua pele, mas que não sabemos porque somos muito jovens. Tudo é anti-idade, tudo é para desinchar. Nós não sabemos o que isso significa.” Ela adiciona, com sinceridade, “Eu preciso saber mais. E sei que nossa geração precisa saber mais.”

Desde que a primeira temporada de Stranger Things foi lançada em 2016, Millie ficou extremamente famosa. Tão famosa que ela mal pode ir ao shopping sem um segurança. Inevitavelmente, tem um lado sombrio: Millie não tem redes sociais no seu celular. Alguém cuida do seu Instagram e página do Facebook, as únicas plataformas sociais que ela não deletou, e ela fez terapia para lidar com o bullying constante que sofria online. É difícil escapar do fato de que as pessoas são obcecadas por tudo que Millie diz e faz. A atriz foi inapropriadamente sexualizada durante anos, algo que ela tentou seu melhor para ignorar, mas as consequências dessa experiência embaraçosa foram severas. Antes de deletar o Twitter e o Tiktok, Millie foi constantemente bombardeada com mensagens de ódio, ameaças, e até mesmo textos de homens casados.

Agora Millie só fala diretamente com seus fãs através de postagens de blog, como se fosse um diário, no site da Florence by Mills. Funciona porque, como ela diz, “Ninguém pode comentar.” Mesmo assim, com o passar dos anos, Millie ainda tenta compreender o porquê de o fato de ser ela mesma gerar tanta crítica.

“É muito difícil ser odiada quando nem você mesma ainda sabe quem realmente é,” ela diz. “Então fico tipo, ‘O que eles odeiam sobre mim? Porque não sei quem eu sou.’ É quase que tipo, ‘Ok, vou tentar ser assim hoje.’ Daí eles dizem, ‘ah não, odeio isso.’ ‘Ai meu deus! Odeio quando você faz isso!’ Daí você começa a se fechar porque você fica tipo, ‘Quem eu devo ser? Quem eles querem que eu seja pra eles?’ Daí eu comecei a amadurecer mais, e minha família e amigos realmente me ajudaram. Me ajudou a entender que eu não preciso ser nada que eles dizem que eu deva ser. Eu só tenho que me desenvolver internamente. Foi isso o que eu fiz.”

Ela faz uma pausa, reconhecendo que ainda há trabalho a ser feito: “Isso é o que estou fazendo.”

Durante o lockdown da pandemia, Millie gravou um álbum e tentou se manter o mais criativa possível, fazendo coisas que eram “tão ruins, mas tão divertidas.” Ela escreve com frequência e gosta de fazer artesanato, mesmo que o que faça não tenha nenhuma utilidade, como um trio de copos de vidro decorados. Um dia, dotada de muito tédio, Millie e seu irmão, Charlie, que trabalha como cinegrafista, recriaram a sequência de Grease 2 “Cool Rider”, cuja ela se recusa a postar online porque “é a pior coisa.”

Em 2020, Millie se encontrou em algo que ela chama de “situação doentia” com a estrela do Tiktok Hunter Ecimovic. Ela precisou de todas as suas forças para sair dela, o que ela fez em Janeiro de 2021. Ao invés de se entregar ao trauma residual, Millie o transformou numa intensa performance na quarta temporada de Stranger Things. Você consegue sentir a ferocidade na sua batalha com Vecna (Jamie Campbell Bower), assim como os minutos finais entre Eleven e sua figura paternal manipuladora, Papa (Matthew Modine). Como Eleven se afasta do Papa em seu leito de morte, é fácil traçar paralelos.

“Me senti muito vulnerável,” ela relembra. “Aliás, ninguém no set sabia que eu estava passando por isso. Então foi bom lidar com aquilo somente comigo mesma e ninguém sabendo. Daí foi muito mais difícil quando todo mundo sabia.”

No verão passado, Ecimovic, cujo Millie confidencialmente definiu como um “caso”, foi ao vivo nas redes sociais e fez ultrajantes, prejudiciais declarações sobre a atriz. No momento, Millie já estava com Jake. Ela voltou para a situação de uma forma reflexiva.

“Foi um ano de cura,” diz ela. “Quando você é humilhada publicamente dessa forma, fiquei tão fora de controle e fraca. Sair dessa sabendo que eu valho tudo e que essa pessoa não tirou nada de mim, fez com que eu me sentisse muito empoderada. Foi como se minha vida finalmente tivesse virado aquela página e que eu realmente tinha terminado um capítulo que foi muito longo.” Ela acrescenta, “Ultimamente, tudo o que quero fazer com minha carreira é ajudar jovens garotas e pessoas aí fora, e que elas saibam que eu também passo por coisas. Não sou essa pessoa perfeita que está vendendo produtos de skincare e que está em Stranger Things. Eu absolutamente fiz escolhas erradas.

Millie não é o montante de suas manchetes. Ela é uma estudante (online) na Universidade de Purdue (Purdue University) em Serviços Humanos, um curso que “você aprende sobre o sistema e como ajudar os jovens.” A companhia de produção da sua família está creditada em Enola Holmes e está trazendo uma sequência, Enola Holmes 2, que sai nesse outono, assim como Damsel. Ela escreveu duas peças com sua irmã, Paige, incluindo uma baseada na vida de sua bisavó. Florence by Mills está se expandindo rapidamente como uma marca global. Millie também continua trabalhando como Embaixadora da Boa-Vontade da UNICEF, com foco na saúde menstrual e educação para jovens mulheres. Ela sabe que tem dezenas de milhares de pessoas se agarrando em cada palavra que diz e ela está pronta para assumir essa responsabilidade.

“É claro, as pessoas podem olhar para isso como certa pressão ou pavor, mas acho que é a parte mais excitante do meu trabalho,” Millie diz. “As pessoas estão olhando para mim, ‘o que você dirá, Millie?’ Eu direi, ‘Jovens garotas merecem educação. Os jovens de todo o mundo merecem direitos iguais. Você merece amar quem quer amar. Seja aquele que você quer ser e realize os sonhos que você deseja realizar.’ Essa é a minha mensagem.”